A pandemia do novo coronavírus gerou muitas mudanças de hábito em razão da necessidade de distanciamento social. Uma delas foi a redução de circulação de pessoas nas ruas.

Com menos veículos rodando, era esperada uma diminuição nos acidentes de trânsito, mas infelizmente o que se observou foi um aumento em alguns momentos, com a preocupante constatação de que os motociclistas são as principais vítimas.

Somente no período de janeiro a julho de 2021, o número de internações de motociclistas alcançou 71.344 casos graves e que exigiram hospitalização.

Um recorde que acende o alerta para a urgência da adoção de medidas educativas e de prevenção focadas nesse público, que cresceu bastante durante a pandemia, principalmente pela maior utilização de serviços de entregas.

Motociclistas são 54% das vítimas

As taxas de mortalidade por 100 mil habitantes por sinistros de trânsito de 2010 a 2019 caíram de 22 para 15,2, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Apesar da redução, historicamente o Brasil é presença constante no ranking dos países com mais acidentes de trânsito e, mesmo com as constantes campanhas de conscientização e ações preventivas, o quadro ainda é alarmante e é necessária uma redução mais drástica dos números.

Segundo levantamento da Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego) com base em dados do Ministério da Saúde, entre março de 2020 (início da pandemia) e julho de 2021, o SUS (Sistema Único de Saúde) registrou 308 mil internações de pessoas em decorrência de acidentes de trânsito no Brasil e 54% das vítimas foram motociclistas.

Em 2020, mesmo com a pandemia, a letalidade dos sinistros foi uma das maiores da história: 2.094 casos de motociclistas que chegaram a ser socorridos e internados, mas não resistiram aos ferimentos e morreram.

Homens jovens são mais atingidos

A pesquisa identificou que, de janeiro a julho de 2021, foram atendidos 59.499 homens e 11.845 mulheres. Em 2020, foram 95.343 e 19.201, respectivamente.

Nos sete primeiros meses de 2021, a região Sudeste foi a que registrou maior quantidade de motociclistas internados (29.218 pessoas) – 19% a mais do que no mesmo período de 2020. Em segundo lugar ficou a região Nordeste, com 23.370 vítimas – 18% de aumento.

Em relação à faixa etária, de janeiro de 2012 a julho de 2021, foram registradas cerca de 340 mil vítimas de 20 a 29 anos de idade; 232 mil entre 30 e 39 anos; e 144 mil com idade entre 40 a 49 anos. Houve ainda 116,8 mil vítimas de 15 a 19 anos.

Aumento da frota de motos

O número de motociclistas cresceu 54,3% entre 2009 e 2019 no Brasil: 33.024.249 milhões de brasileiros estão habilitados a pilotar motos, o equivalente a 44,7% dos motoristas do país.

A frota de motocicletas quase dobrou no período, passando de 15 milhões de unidades para mais de 28 milhões em dez anos.

Consequências psicológicas e econômicas

Além das consequências psicológicas e econômicas para as vítimas e suas famílias, calcula-se que, somente em 2020, houve gasto de R$ 171 milhões no tratamento de saúde dos motociclistas.

Esse valor corrobora uma pesquisa detalhada realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) entre 2007 e 2018. Segundo o estudo “Impactos Socioeconômicos dos Acidentes de Transporte no Brasil”, foram gastos cerca de R$ 130 bilhões por ano com despesas hospitalares e patrimoniais decorrentes de sinistros de trânsito.

O que pode ser feito?

O uso de equipamentos de segurança é um dos pilares entre as ações preventivas. Estudos mostram redução de 66% na probabilidade de lesão intracerebral para motociclistas e ciclistas que usam capacete. Sua utilização também diminui a gravidade da lesão em 72%, e a probabilidade de morte em 45%.

O respeito às leis, fiscalização, conscientização sobre a necessidade de uma postura responsável e segura de todos os envolvidos no trânsito são outras atitudes que fazem a diferença e podem ajudar a mudar esse quadro crítico.